Processo criativo da crônica Horário: drive in
time
A ideia de escrever uma crônica surgiu de uma
possível proposta em aula: escrever um gênero que nunca havia escrito,
experimentar. Com isto em mente, comecei a buscar temas do cotidiano. Essa
busca também acontecia quando dirigia e, oralmente, simulava pequenos inícios
de crônicas sobre o que me atingia, ofendia ou simplesmente tocava. Um dia, em
que o tráfego estava intenso, surgiu a frase com que começo a crônica. Dirigir
é exercício de meditação.
A afirmação me tocou, dado sua incongruência ou
seu potencial de absurdo. Permaneci com ela alguns dias e, então, escrevi
alguns parágrafos apenas tentando descrever o que encontrava em meu caminho.
Com o exercício da descrição, um percurso surgiu e uma personagem começou a
aparecer acompanhada de outras vozes que delineavam diversos caracteres do
cotidiano. Creio que, como era um percurso, a personagem deveria chegar a algum
lugar e chegou. Não sei precisar porque chegou onde chegou, um local tão
absurdo quanto a própria afirmação inicial. Ficou o esboço de um pequeno texto
forrado de frases feitas e vozes caóticas. Também um profundo incômodo de um
texto ingênuo. Deixei o texto dormir e, quem sabe, dormiria para sempre, não
fosse a necessidade de apresentar algo produzido neste tempo de curso.
Em minha mente conspiravam as diversas vozes e a
progressão referencial (construção , desconstrução, desfocalização). Retomei o
texto observando os elementos que impediam a progressão textual ou, ainda, a
progressão da personagem em seu percurso urbano e seu mundo interno. Eliminei o
óbvio e redundante de sentido, o que já estava implícito e não precisava ser
dito. Ampliei vozes presentes e emudecidas. Assumi o contexto ingenuamente
absurdo e fim. Confesso que o
incômodo permanece...
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