Ela
era famosa.
Ele
também.
Aliás,
não se sabe até hoje quem alcançou maior fama, ele ou ela.
Em
comum, a mesma morte. De resto, naturezas distintas.
Ela
generosa.
Ele mesquinho.
Viviam
na mesma terra.
Ele mais para dentro da cerca, passava os dias a triturar, coar, e armazenar sua
mesquinhez.
Ela
na beira da estrada, meio cá, meio lá, deixava a mostra toda frondosa
generosidade.
E por
estar assim tão exposta, ela era admirada pelos que passavam pela estradinha de
terra. Muitos não resistiam e acabavam se aproximando mais e mais, até
conseguir tocá-la. E ela que essencialmente era um ser que alimentava corpo e
espírito de toda gente, se entregava.
Por
isso ele não se conformava. Era tomado por um sentimento ancestral, a idéia de
posse daquilo que na essência é de todos.
Nessa
luta muda, os dois se engalfinhavam dia depois de dia.
A
cada ataque recebido ela parecia ficar mais forte, e ele, mais cruel.
Foram
doze anos assim.
A história
ganhou montanhas e vales, voou de boca em boca e a cada vez que era contada,
ele era amaldiçoado por sua ira dos infernos.
Ela
velha ficou mais sedutora. Ele arqueado e sem viço.
Num
dia de janeiro, estação das águas, imerso no seu negro rancor, ele resolveu dar
fim ao que considerava ser um martírio.
Pegou
um machado e seguiu rumo ao desfecho final.
Com
dificuldade agarrou a ferramenta e quando estava pronto para dar o primeiro, do
que havia planejado uma série de golpes, foi atingido por um raio.
Caiu
sem não antes perceber que ela também fora atingida. O raio rachou ao meio seu
poderoso tronco.
Morreram
os dois. O homem e a mangueira.
O
corpo ficou escorado num galho. Conheceu a morte ao lado daquela que havia
tentado matar durante toda vida.
Dele,
só restou pó.
Dela,
um pedaço de tronco morto que virou banco.
Agora,
onde quem outrora pegava manga senta para contar a história de um homem que de tão
ruim, tão ruim, morreu seco e esturricado ao lado da mangueira que tanto odiou.
Tonha, creio que já havia te falado: a-do-rei
ResponderExcluirbjao