Bloqueio crônico
O
relógio do computador marca 19 horas de um domingo. Somente 24 horas me separam
da difícil tarefa de entregar a primeira crônica da minha vida. Sento-me para
escrever, mas as palavras escapam cada vez que as jogo para dentro do monitor.
Fico olhando o cursor piscando e
barrando cada letra. Ele martela a tela branca uma vez por segundo como se
estivesse me desafiando: - E aí? Vamos nessa? Esse pisca-pisca tentando dar um
curso na minha conversa com o teclado me enerva sobremaneira.
A cada letrinha que entra na tela, ele
desaparece e surge novamente, como que a cobrar de mim: - A próxima!...A próxima!
E assim a próxima palavra acaba ficando cada vez mais distante. Arrumo minha
coluna no assento, torço o pescoço para um lado e para o outro, duas vezes
seguidas, para liberar a tensão nos meus ombros. Aceito o desafio sim, seu
filho da mãe!
Sigo clicando e corrigindo os erros de
concordância e os de digitação cada vez que aparece um ou outro.
E esse maldito cursor que não para. Olho para
o teto buscando a continuidade das frases e quanto volto a olhar para o
monitor, lá está aquela barrinha, ou melhor, aquela verdadeira barreira preta
piscando e bloqueando minha imaginação. 20 horas!
Uma hora depois e mais duas torções
com direito a uma cruzada das pernas em xis na cadeira, bato diversas vezes na
tecla de tabulação tentando afastar a barra negra insistente. Não adianta! Só
vou acumulando espaço pontilhado na tela branca e a mente continua em bloqueio
total. E a ideia para a crônica? Vai sair ou não?
Saio da sala para clarear a mente. Vou
até a cozinha tomar um suco e, para meu desespero, o relógio de lá também não
deixa esquecer: 21horas.
Volto para o computador, sento e
encosto na poltrona de couro preto, tão preto quanto o teimoso cursor.
Continuo no desafio. Se não bastasse aquele
piscar intermitente na telinha, o relógio do meu aparelho celular também me
cobra rendimento: 21h30min: - Essa crônica sai ou não sai?
Sai sim!
Esse bloqueio, que acontece quando
corro contra o tempo, é crônico em meus trabalhos de escrita. Sou uma
principiante das letras que tem uma meta, uma metalinguagem a longo prazo. Ah! Como
gosto desse termo longo, lon-go. Longo prazo- Sim! Definitivamente, é disso que
eu preciso. De um prazo mais longo!...
Maldito cursor!
Ah ah ah! Ignore esse cursor chatão aí. Eu sempre acho melhor ter as ideias antes, fazer algumas anotações, pra depois começar a escrever, senão vira esse disputa contra a tela branca e fica difícil mesmo.
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